A indignação popular tem impressionado, com razão, por vários aspectos, neste país. Da espontaneidade ao volume, do teor das irresignações até a forma de expressão, do tempo de concepção, incubação e afloramento, até o alcance dos efeitos pretendidos, ou possíveis, tudo é bem peculiar ao Brasil.
Nenhum destes fatores chama tanto a atenção, a mim pelo menos, quanto a vulnerabilidade dos protestos e movimentos, mesmo aqueles de intenções mais nobres a cândidas, a oportunistas de toda a ordem e politiqueiros (que são diferentes de políticos) de todas as tendências ideológicas ou filosóficas, ou matizes partidárias.
Notaram o que se deu, aos olhos da opinião pública que, como de costume é telespectadora da sua história, com a paralisação de caminhoneiros, ou, supostos caminhoneiros?
Iniciaram toda a sua epopeia ao abrigo do clamor e apoio popular que, assim como os parados à orla das estradas, cansados da exploração estatal e governamental através dos escravagistas preços dos combustíveis. Não demorou muito, o irrestrito respaldo social à nobre classe de heroicos insurgentes se transformou em desconfiança, ao passo que emergidas as primeiras suspeitas de ardis simulações promovidas pelas grandes empresas transportadoras, e exercício de prática criminosa, na senda de engessar o preço do frete.
Mas nada, absolutamente nada, foi capaz de mobilizar tanto o brasileiro quanto os primeiros riscos de desconforto a, então, fazer bradar unida a nação pelo fim dos bloqueios e reabastecimento de postos e supermercados. Ao alvorecer de qualquer dificuldade, esvaiu-se o brio e a solidariedade do brasileiro. Como sempre, desta feita não foi diferente.
Das anunciadas possíveis faltas de remédios, do temido colapso do sistema de saúde, falta de água, comida, artigos de primeira e remota necessidade, bastou o aumento do preço do saco de batatas para que mais essa expressão contra um dos tantos males do país caísse em desgraça.
Aqui em Santa Maria, oportunistas instrumentalizando uma meia dúzia de desesperados inconscientes chegou a ir gritar às portas de um quartel por intervenção militar, incomodando a vizinhança e acrescendo ainda mais descrédito ao já agonizante movimento. Debeladas as resistências, os daqui não se dissiparam, mas, em contrário, remanesceram por mais alguns dias em desesperada busca de nova pauta que justificasse sua permanência nas estradas. Ordenhavam, então, uma vaca já morta. Foi risível...
Até agora, tudo assistido e passado, não sabem a razão fundamental de todo o ocorrido, tampouco por quem foi planejado e, mais, se quem se viu protagonista não era, em verdade, instrumento do que sequer imaginam ter sido alcançado.
Pobre povo inconsciente que só reagirá de verdade quando faltar sabonete, por não tolerar o seu próprio cheiro.